Café - Elucubrações 6 (Algumas considerações conceituais: Técnica, estética e ética)


Algumas considerações conceituais

Devido à natureza prática da trajetória artística de Hugo Rodas muitos dos conceitos por ele utilizados foram apreendidos e reproduzidos por ele sem que ele necessariamente evidenciasse a origem dos mesmos. Assim, muitas vezes se tem a impressão de que esses conceitos foram criados pelo Hugo, contudo, mesmo sendo certo que ele adaptou e aperfeiçoou a maioria dos seus conceitos, não se pode negar que essas práticas fazem parte de uma, ou várias, heranças de tradições de teatro que foram passadas de mestre para discípulo. Muitas vezes esse processo de passagem de conhecimentos não dá enfase na linhagem de professores que vieram antes e que possibilitaram que certas técnicas chegassem até a nova geração. Assim, uma das perguntas que é preciso investigar é de onde vem essas práticas e conceitos que o Hugo utiliza? Buscando responder esta pergunta, é tentador tentar delimitar uma linha única de pensamento, mas isso não é possível no caso do Hugo, pois ele bebe de muitas fontes para inspirar o seu trabalho. Alguns autores, contudo, recebem uma atenção especial como Grotowski no quesito das suas propostas de treinamento para atores, como Meyerhold no quesito das suas proposições para o teatro musical e como Artaud no quesito da forma de motivar a interpretação do ator por meio dos extremos da crueldade. Já na sua formação enquanto interprete ele estudou principalmente práticas derivadas de Grotowski e Stanislavski. Esses quatro autores certamente têm uma influência forte sobre o Hugo e, provavelmente serão centrais para esta pesquisa.
Ao procurar pensar sobre a prática do Hugo a partir das experiências com ele nesses anos todos eu me deparei com o fato de que na prática eu consiguia entender e executar a sua técnica, mas nunca tinha parado para refletir sobre como esta técncia funciona, ou como ela interage com a variedade de conceitos que o Hugo tráz, em suma me deparei com o questionamento: no que consiste a sua metodologia? E a sua estética? E as suas técnicas? Na busca por respondê-las uma série de conceitos que o Hugo aborda corriqueiramente na sua prática me veio a mente: voz muscular, não interpretação, sentir muscularmente, qualidade de movimentaçaõ, domínio do movimento, visceralidade, consciência muscular, criatividade, ritmo, musicalidade, ser um grupo, fazer e não pensar, câmera lenta, escuta, impulso, linhas, giros, espirais, exploração vocal e corporal, interação corpo e voz, acreditar, verdade, dentre outros que poderiam ser listados aqui. Contudo, esta lista enorme não necessariamente se traduz num sistema. Cada um dos seus itens talvez fossem mais facilmente compreendidos como os órgãos do seus sistema geral conceitual.
Alguns desses órgãos se relacionam com aspectos estéticos do trabalho do Hugo, outros com aspectos técnicos da sua metodologia de ensino e criação e outros com a forma como ele reflete sobre o teatro que ele faz. Procurando sintetizar essa profusão conceitual imagino que esclarecer esses três elementos da sua metodologia seja mister para esta pesquisa. São eles:

1- Técnica: Quais são os conceitos e práticas que ele desenvolve técnicamente principalmente quando se trata de treinar atores, mas também na sua relação com os elementos da encenação teatral? E para que servem?
2- Estética: Quais são os elementos que caracterízam o trabalho do Hugo no seu resultado cênico? Quais são os procedimentos que ele utiliza para chegar até sua estética? Porque o seu trabalho é uma Dramaturgia do Ator?
3- Ética: Como ele vê a sua própria prática? Quais são os valores que o fazem escolher determinados caminhos para o seu fazer teatral? Qual a sua relação entre a sua estética e as técnicas que ele utiliza e o que justifica essa relação?

Flávio Café

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